No Japão, sê japonês
Recomendo vivamente a leitura do post Síndrome de Viseu, do Miguel Vale de Almeida - sabe bem ler lucidez de vez em quando.
Hoje estava a perguntar ao E. como lhe tinha corrido o fim-de-semana de Páscoa, quando me contou um episódio que se passou com ele. Estava ele com a família, num cafe, quando uma sua sobrinha, de 10 anos, se vira para ele e pergunta "Então onde está o meu novo tio?" Tendo em conta o contexto e os factos mais recentes da vida dele (com um oficializar de coming-out), o episódio não deixa de ser bastante curioso - e levanta novamente a questão do papel das crianças nas relações homoparentais. Muitas vezes é utilizado o pretexto de não haver espaço para uma criança num lar com pais homossexuais, sendo que o natural é existir um pai e uma mãe para educarem com moldes de ambos os géneros. Quanto à naturalidade, há algumas semanas ouvia uma professora comentar que "é preciso as pessoas quebrarem o conceito de naturalidade, que é irreal, e que é muitas vezes usado como ferramenta de juízos morais". Eu sublinho. No contexto do mundo animal, embora sejam necessários dois progenitores de sexo oposto, são raros os casos em que ambos contribuem para a evolução da cria até à idade adulta. Ainda no contexto animal, mais concretamente na espécie humana, durante estes milénios de evolução as estruturas familiares têm vindo a sofrer bastantes alterações, sendo que nos últimos séculos têm vindo a aparecer novas formas de educar bastante variadas: desde a família dita tradicional, às famílias monoparentais, às crianças educadas por outros parentes próximos.. Se a estrutura tradicional ainda é a prevalente (e nada indica a que venha a deixar de ser), desprezar outras formas de educar com base em ideias pré-concebidas é limitar a capacidade do ser humano para transmitir conhecimento às futuras gerações mas, mais importante ainda, é limitar a nossa capacidade de amar. A questão dos moldes dos géneros é também artificial: principalmente nos dias de hoje em que os fluxos de informação são mais que muitos - além disso urge quebrar com os moldes estereotipados de homem e mulher.
Tudo isto porque há uma tendência para sobre-proteger as crianças, ao ponto de as tornar cada vez menos disponíveis para o próximo - e isto é logo derrubado quando uma criança de 10 anos pergunta onde estava o novo tio dela.
Existe mesmo um problema? ou ele é criado para ocultar medos/preconceitos mais profundos?
É costume gozar com os títulos oficiais que dão aos filmes em português, por muitas vezes não terem nada a ver com o título original. Mas compreende-se que é melhor a tradução ser feita no contexto do que à letra (foi admiração quando descobri que traduziram o título do filme 'Spanglish' para 'Espanglês'.. um caso raro).
Mais uma vez nos EUA. Um jovem adolescente, matou uma dezena de pessoas, colegas e professores, bem como os avós, suicidando-se de seguida. Este cenário apresenta, na sua morbidez, algumas semelhanças com a tragédia de 20 de Abril de 1999, na escola de Columbine [que já originou o filme Bowling for Columbine do Michael Moore]. Estes cenários que se têm vindo a repetir, sempre envolvidos em requintes tétricos, trazem ao de cima os contrastes hipócritas e problemáticos dos EUA, mais concretamente no que diz respeito ao porte de armas. Desta vez foi um adolescente de 16 anos que, pelo que tenho vindo a ler, era um fanático hitleriano que se auto denominava "Angel of Death". Desta vez foi no Minnesota. Mas não será a última vez. Até quando?
Lembro-me sempre dos versos da música "The Kinslayer" dos Nightwish escrita como memorial dos acontecimentos de Columbine:
For whom the gun tolls
For whom the prey weeps
Bow before a war
Call it religion...
Ontem visitei o Tro.blog.dita, que já tinha o prazer de ler há algum tempo. De entre os vários posts e, comprovando a ideia que eu já tinha vindo a criar desde que comecei a visitar este blog, encontrei uma expressão exemplar daquilo que é a minha concepção de humanismo e de espírito anti-homofobia. Aconselho vivamente a leitura do post "Fobia, fobia, fobia".
Quando converso com algumas pessoas acerca de preconceito homófobo [ou noutros debates a que assisto] um dos grandes entraves que encontro é o aceitar de dogmas inquestionáveis, chegando ao ponto em que, por mais argumentos que sejam debatidos, por mais que se tentem descontruir as ideias normativas do comportamento (muitas delas completamente infundadas), oiço, para meu lamento, o já vulgarizado: "Sim ok, mas é assim que eu penso..." - este tipo de atitude, onde não há espaço para o questionar, o pôr em causa, faz crescer em mim um suspiro.
A desconstrução de um preconceito não se faz da noite para o dia.. é necessário tempo e paciência - mas também uma vontade de questionar o porquê das coisas, uma recusa dos dogmas impostos para que, a pouco e pouco, possamos aceitar novas formas de ser/estar. Quando oiço a expressão "Burro velho não aprende línguas", tento fazer um esforço para eu próprio não cair na resignação e viro-me para o "Enquanto há vida, há esperança". Passo a passo, a algum lado chegaremos - e obrigado ao Tro.blog.dita pelo contributo :)
"Genetic and Environmental Influences on Religiousness: Findings for Retrospective and Current Religiousness Ratings"
Soube pelo Gene Expression que um grupo de investigadores em genética comportamental vai agora publicar um artigo sobre a relevância da genética na transmissão da característica comportamental a que chamaram "religiosidade". Este estudo veio assim suceder a outros já existentes realizados na década de 90 e a um outro mais recente, em 2004.
A partir de um estudo com gémeos (monozigóticos e dizigóticos) foi então desenvolvido um modelo que demonstra que, para os dados analisados, a maior influência nas expressões de religiosidade durante a infância, será o ambiente de crescimento enquanto que os factores genéticos tendem a ser mais incisivos nos dados relativos a adultos.
A ideia por detrás deste artigo é, a meu ver, interessante, pelo facto de os ideais religiosos serem "memes" perfeitos, dada a sua eficiência de proliferação. Estou curioso para o desenrolar da história..
O HomoeroticArt Museum foi uma das minhas mais recentes descobertas na net. Neste site podemos encontrar um grande número de representações da arte homoerótica de várias regiões e culturas do mundo, ao longo de vários estados da evolução humana. Desde os indícios da homossexualidade na Grécia Antiga, passando pelos vários povos árabes, da Índia, ao erotismo entre os jovens samurais do Japão e muito mais. Têm ainda todo o tipo de esculturas com conteúdo homoerótico (como formas fálicas) encontradas ao longo dos tempos e ainda uma secção mais light e cómica relativa a várias reencarnações fálicas em formas da natureza. É sem dúvida uma excelente oportunidade para conhecer um pouco o enraízamento que este tipo de arte tem nas culturas mundiais, talvez para melhor percebermos e desconstruirmos as razões por detrás deste repúdio(?) que se vive face a expressões mais efusivas de sentimentos entre dois homens - anyway, um belo momento de visita ;)
Esta tarde estive com a S. e a I., as minhas all life long friends, num café/lanche no Cup&Cino. Foram umas horas bastante bem passadas, principalmente porque já não estava com elas desde Outubro do ano passado, e as saudades já davam de si: conheço a I. há cerca de 16 anos e a S. há 12 anos e neste tempo temos partilhado muitas situações alegres (e outras mais tristes). Hoje, entre a conversa que foi posta em dia, relembrámos algumas dessas "coisas nossas", revivendo aquela que é a nossa caixa de memórias de adolescência.
Agora está a chegar a altura em que cada um vai seguir o seu caminho. Eu candidatei-me a Erasmus para o ano de forma que talvez vá estagiar um semestre à Holanda ou Bélgica; a I. está já em estágio e anda muito viajada por Bruxelas; a S., que também é dada às viagens, anda por Barcelona, vai dar um saltinho aos EUA e também se candidatou a Erasmus em Milão. Enfim...andamos todos numa de internacionalização. Lembro-me vivamente de umas palavras da I., há uns anos atrás, em que ela dizia que nós seríamos daqueles Amigos, de todo o sempre, que estão separados pelo espaço, se reencontram de vez a vez, mas que em cada encontro são "iguais a si próprios", com os seus traços característicos, enfim... friends. Parece que não estava muito enganada. Amigas, gostei imenso de vos rever e espero que repitamos estas tardes mais vezes. Dois beijos para cada.
*Aprender Japonês
Quando tinha 16 anos, na altura em que ainda era um dragonball addicted, e movido pelo crescente fascínio pela cultura oriental, resolvi enveredar por um processo de auto-aprendizagem do japonês. Nerd dizem uns, maluco dizem outros - uma experiência bastante positiva, digo eu. Começar a aprofundar o conhecimento dos diferentes silabários desde a sua raíz e ir subindo, degrau a degrau, até começar a perceber um pouco da construção gramatical - fase em que me fiquei devido a falta de tempo (e alguma motivação também). Pois para quem não tem a mínima noção, o sistema de escrita nipónico é algo diferente daquele a que estamos habituados, existindo quatro silabários principais: o Hiragana, o Katakana, o Kanji e o Romaji. O Kanji é aquele que talvez seja mais facilmente reconhecido e é o que se encontra mais próximo das "origens" da língua japonesa - foi o sistema de escrita importado da China na forma de ideogramas, possuindo estes um (ou mais que um) significado e uma leitura - é também o mais difícil de aprender mas talvez por isso o mais desafiador.
O silabário Hiragana foi desenvolvido por simplificação de alguns Kanji e é o mais utilizado no dia-a-dia em conjunto com o Katakana, um seu equivalente mas apenas usado na escrita de estrangeirismos. O quarto sistema, o Romaji, é muito mais recente e foi a adaptação do nosso alfabeto para a escrita de palavras japonesas.
E pronto. Talvez desenvolva mais um pouco este tema em posts futuros. Para aqueles que ficaram com uma pontinha de curiosidade aqui ficam duas tabelas com os silabários Hiragana e Katakana. Os interessados em algo mais é favor contactar-me ;)
Por vezes um sorriso é mais forte que qualquer palavra e consegue preencher o imenso vazio...
[do nosso coração]
Na Sexta-feira deu um programa na 2: que falava da história do sexo e, pelo que diziam, muitas das idéias que temos agora acerca do sexo vêm de opções que a Igreja tomou na Idade Média ou antes, e que foram ficando. Segundo eles, naquela altura, uma grande concorrente do Catolicismo era o Paganismo, que incorporava o sexo como uma parte muito forte e importante - e para a Igreja Católica dizer que era diferente, atacou o sexo.
Dois jovens monges, enviados pelo seu Mestre numa jornada pelo mundo, detiveram-se com dois grandes obstáculos:
- O primeiro monge, para prosseguir no seu caminho, teria de escalar uma enorme cordilheira montanhosa e labiríntica. Quando enveredou por entre as rochas o seu espírito aventureiro e destemido deram-lhe força para cruzar muitas das montanhas. Mas à medida que o tempo passava, as neblinas foram descendo juntamente com as trevas, o cansaço começou a acumular e as perspectivas de fracasso foram crescendo na sua mente. Em determinada altura, lembrou-se que se subisse ao cume mais alto poderia resolver o seu problema - e, num esforço derradeiro, esquecendo as feridas do corpo e do espírito, subiu até ao cume, ultrapassando todos os seus limites. Quando lá chegou, a desilusão instalou-se: tudo em seu redor eram trevas. Mas momentos depois o Sol ergueu-se no firmamento.
- O segundo monge teve um percurso diferente. Viajou por selvas e savanas, partilhando os conhecimentos das populações com quem se cruzava na sua jornada. E à medida que ia travando novas ligações, fazia momentos de grande reflexão sobre os desígnios que o conduziam naquela jornada. Numa das suas caminhadas deparou-se com um grupo de leões. O coração do monge começou num crescendo de palpitações - não havia conhecimento algum no mundo que lhe servisse naquele instante para derrubar o medo avassalador que lhe invadia a alma. E o grupo de leões, esfomeados, pressentiram o medo no vento e atacaram. O monge, de estatura média e também enfraquecido da viagem, começou a correr - e correu até o seu corpo não aguentar e até alcançar um precipício. Encurralado entre o abismo e um grupo de predadores assassinos, o jovem monge viu toda a sua vida passar em frente dos olhos - e saltou no vazio.
No Aikido, assim como em muitas artes do Budo (artes marciais), um dos primeiros grandes entraves sentidos pelos novos praticantes é a queda (ukemi) - o processo de superar o medo de cair, de perder a sua estabilidade vertical, de entrar em desequilíbrio. Para tal, o praticante treina vários tipos de abordagens à queda, tentando adaptar o seu corpo para recuperar os constantes desequilíbrios e minimizando possiveis lesões que poderão advir de uma queda desastrosa. Mas para além do aprender da adesão ao solo, é necessário igualmente uma tomada de consciência. No Aikido caímos quando somos projectados para longe pelo parceiro. Mas a isto não deve estar associada uma noção de actividade/passividade, de "vence aquele que projecta" - a queda deve antes ser vista como uma passagem entre dois estados de equilíbrio diferentes. Aprendemos a cair para que nos possamos levantar novamente e prosseguir. A técnica da queda deve ser bem percebida para que possamos sair incólumes do estado de desequilíbrio em que entramos momentaneamente, mas deve também haver uma postura de receptividade para a queda, de um processo que deve ser encarado com humildade.