domingo, março 06, 2005

Parábola da Montanha e do Abismo

Dois jovens monges, enviados pelo seu Mestre numa jornada pelo mundo, detiveram-se com dois grandes obstáculos:

- O primeiro monge, para prosseguir no seu caminho, teria de escalar uma enorme cordilheira montanhosa e labiríntica. Quando enveredou por entre as rochas o seu espírito aventureiro e destemido deram-lhe força para cruzar muitas das montanhas. Mas à medida que o tempo passava, as neblinas foram descendo juntamente com as trevas, o cansaço começou a acumular e as perspectivas de fracasso foram crescendo na sua mente. Em determinada altura, lembrou-se que se subisse ao cume mais alto poderia resolver o seu problema - e, num esforço derradeiro, esquecendo as feridas do corpo e do espírito, subiu até ao cume, ultrapassando todos os seus limites. Quando lá chegou, a desilusão instalou-se: tudo em seu redor eram trevas. Mas momentos depois o Sol ergueu-se no firmamento.

- O segundo monge teve um percurso diferente. Viajou por selvas e savanas, partilhando os conhecimentos das populações com quem se cruzava na sua jornada. E à medida que ia travando novas ligações, fazia momentos de grande reflexão sobre os desígnios que o conduziam naquela jornada. Numa das suas caminhadas deparou-se com um grupo de leões. O coração do monge começou num crescendo de palpitações - não havia conhecimento algum no mundo que lhe servisse naquele instante para derrubar o medo avassalador que lhe invadia a alma. E o grupo de leões, esfomeados, pressentiram o medo no vento e atacaram. O monge, de estatura média e também enfraquecido da viagem, começou a correr - e correu até o seu corpo não aguentar e até alcançar um precipício. Encurralado entre o abismo e um grupo de predadores assassinos, o jovem monge viu toda a sua vida passar em frente dos olhos - e saltou no vazio.


O caminho para a reunificação das consciências nem sempre é o mais evidente.