"O Último Crisântemo"
O texto que se segue foi escrito há cerca de cinco anos atrás, por mim, num momento de inspiração para ficção - actualmente faz parte da minha gaveta de "unfinished stuff" mas é algo que um dia gostaria de ver terminado..
"Às vezes as pessoas vêm coisas. Não que as vejam realmente, no sentido mais comum da palavra. Sentem-nas. Como um grito penetrante que nos percorre as entranhas e nos vai dilacerando perpetuamente por dentro. Como quem sente um suspiro lancinante por detrás da orelha, que depois nos consome até ao tutano dos ossos, violando a presunção da nossa eternidade. Não que tenhamos necessariamente medo, mas é como se negássemos antecipadamente o desconhecido, o diferente de nós e, à partida, não pertencente à nossa realidade. Há quem se refira a estas aparições como sendo espíritos perturbados, entidades voláteis que vagueiam pelo Mundo à espera de cumprir o objectivo que não realizaram em vida, para que possam ingressar na paz dos Céus. Outros há, que associam estes fenómenos a manifestações na Natureza e que, enquanto tal, não deverão ser interpretadas de outra forma que não essa. Finalmente, e como em tudo, há os cépticos, aqueles que se recusam a acreditar nas evidências e que são, a meu ver, movidos por uma violente e inabalável teimosia... Destes três grupos aquele em que eu me enquadrava melhor era o terceiro; também eu fui outrora céptico. Também eu me recusava a aceitar as evidências. Até ao dia em que aquele terrífico arrepio me percorreu a espinha e me esventrou as convicções, convicções que alimentava em mim desde a minha nascença. Foi esta ansiedade vestida de terror que me susteve naquela longínqua e interminável noite de Verão em que completei 20 anos. Tudo começou quando me preparava para sair de casa nesse mesmo dia, à tarde..."
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