"E o novo Tio?"
Hoje estava a perguntar ao E. como lhe tinha corrido o fim-de-semana de Páscoa, quando me contou um episódio que se passou com ele. Estava ele com a família, num cafe, quando uma sua sobrinha, de 10 anos, se vira para ele e pergunta "Então onde está o meu novo tio?" Tendo em conta o contexto e os factos mais recentes da vida dele (com um oficializar de coming-out), o episódio não deixa de ser bastante curioso - e levanta novamente a questão do papel das crianças nas relações homoparentais. Muitas vezes é utilizado o pretexto de não haver espaço para uma criança num lar com pais homossexuais, sendo que o natural é existir um pai e uma mãe para educarem com moldes de ambos os géneros. Quanto à naturalidade, há algumas semanas ouvia uma professora comentar que "é preciso as pessoas quebrarem o conceito de naturalidade, que é irreal, e que é muitas vezes usado como ferramenta de juízos morais". Eu sublinho. No contexto do mundo animal, embora sejam necessários dois progenitores de sexo oposto, são raros os casos em que ambos contribuem para a evolução da cria até à idade adulta. Ainda no contexto animal, mais concretamente na espécie humana, durante estes milénios de evolução as estruturas familiares têm vindo a sofrer bastantes alterações, sendo que nos últimos séculos têm vindo a aparecer novas formas de educar bastante variadas: desde a família dita tradicional, às famílias monoparentais, às crianças educadas por outros parentes próximos.. Se a estrutura tradicional ainda é a prevalente (e nada indica a que venha a deixar de ser), desprezar outras formas de educar com base em ideias pré-concebidas é limitar a capacidade do ser humano para transmitir conhecimento às futuras gerações mas, mais importante ainda, é limitar a nossa capacidade de amar. A questão dos moldes dos géneros é também artificial: principalmente nos dias de hoje em que os fluxos de informação são mais que muitos - além disso urge quebrar com os moldes estereotipados de homem e mulher.
Tudo isto porque há uma tendência para sobre-proteger as crianças, ao ponto de as tornar cada vez menos disponíveis para o próximo - e isto é logo derrubado quando uma criança de 10 anos pergunta onde estava o novo tio dela.
Existe mesmo um problema? ou ele é criado para ocultar medos/preconceitos mais profundos?
PS para o E.: Agora vê lá se tratas de lhe arranjar o tio, rapaz ;)
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