quinta-feira, abril 29, 2004

Uma Visão do Ser 2000



Foi com algum regozijo que vi que este blog ultrapassou hoje os 2000 visitantes! e uma vez que não comemorámos os 1000, aqui fica então um post para não deixar passar esta ocasião.

Quando comecei o blog, em meados de Janeiro, tinha em mente abrir aqui um portal (como que um torii*) para o intercruzar de experiências, de vidas, de Vias, de vários aspectos que, de uma forma ou de outra me tocam - o meu objectivo era abordar as várias dimensões do ser humano, de forma pluralista e livre de pré-conceitos (e preconceitos), de forma crítica obviamente [até porque muito do que por aqui deixo faz parte do meu Si intrínseco] mas deixando o espaço disponível para que algo seja acrescentado. Porque como Lao Tsé já disse "Se deixarmos de nos impôr às pessoas, elas tornar-se-ão elas próprias". Isto reflecte muito daquilo que pretendo construir à medida que me vou (re)construindo. Agradeço ao Ghast os posts que aqui vão aparecendo por parte dele, as conversas no MSN até às tantas da manhã que tanto me fazem repensar a vida. Agradeço ao TheVermelho, que mesmo embora não tenha exercido (ainda?) a sua actividade como postant, me ajuda muito na parte artística do blog. E obrigado a todos os que por aqui passaram [e que espero que voltem a passar ;)]

And that's all for now... :D

*Torii: os torii são pórticos de templos xintoístas que existem em várias localidades japonesas e que indicam que o terreno circundante é morada divina. Um dos torii mais bonitos é o da vila de Miyajima:


terça-feira, abril 27, 2004

Algures

Ouvindo daqui e d'ali
crias a tua realidade.
Não que seja falsa,
apenas meia-verdade
que não interessa
acabar.

Procuras a face última
em busca da verdade
perfeita e não vês
que a vais criando,
moldando?

Mas num Universo não há face última...
E muito menos verdade perfeita!

Há verdades,
cada qual com a sua beleza
cada uma com o seu pilar
o seu querer, o seu viver
a sua maneira de ser
a sua maneira de estar.

Vivências apartadas.
Realidades que não são
partilhadas
contadas
compreendidas.

Barreiras criadas
na mente de quem as vê.

João Bispo

segunda-feira, abril 26, 2004

Apanhados do reino animal





P.S: Sempre adorei pinguins ;)

domingo, abril 25, 2004

30 anos de 25 de Abril


Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais feliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raíz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinhiero estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos dos passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas tabém tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com a que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
- pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
- é a força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados "páras"
que não queriam o degredo
de um povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma razão
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua prórpia pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo de mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas era olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que desbobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideias
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio faziam
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
- cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabrões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os genarais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
apenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opões àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
- Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
Em em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
de um país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua prórpia grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viesses ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
e ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisa em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

sexta-feira, abril 23, 2004

"Making the Mind - Why we misunderstood the Nature vs Nurture Debate?" por Gary Marcus


"As we come to see genes not as rigid dictators of destiny but as rich providers of opportunity, we may be able to use our growing knowledge of nature as a means to make the most out of nurture"

O artigo acima foi escrito por Gary Marcus, o mesmo cientista que escreveu o livro que apresentei num dos últimos posts. Recomendo a sua leitura a todos os que se interessarem pelo emergir dos ramos da ciência como são os da genética comportamental e da neurociência cognitiva.

Gary apresenta de forma simples a sua visão do papel dos genes no processo de desenvolvimento do cérebro e, consequentemente a forma como nos podem influenciar a nível comportamental - os genes apresentam-se como os moduladores das estruturas neuronais que influenciam o comportamento e não como os "ditadores" de comportamentos específicos. É enfatizada a ideia das "cascatas" (genes que quando expressos influenciam outros, que por sua vez influenciam outros and so on), dos processos de auto-regulação dos clusters de genes e das vantagens deste sistema organizacional do ponto de vista da construção biológica do cérebro e do Si.

Um convite para um pequeno momento de reflexão.

Um pequeno mote...

"Sentir dor ou sentir prazer resulta da presença de uma certa imagem do corpo tal como ele é representada, em certos momento, em mapas do corpo.

A morfina ou a aspirina podem alterar essa imagem. O uísque ou o ecstasy também. E certas formas de meditação. E o desespero. E a esperança."


António Damásio in "Ao Encontro de Espinosa"


quinta-feira, abril 22, 2004

There's so much beauty in this world...











terça-feira, abril 20, 2004

O Nascimento da Mente


Descobri no Gene Expression a referência a um livro que gostaria de ler: "The Birth of the Mind: How a Tiny Number of Genes Creates the Complexities of Human Thought" por Gary Marcus, professor de Psicologia na New York University.

Aqui fica uma pequena introdução do livro (em inglês):

"The Human Genome Project has blazed new trails in medical science and genetic research. We know that within hours of their birth, babies can recognize faces, connect what they hear with what they see and tell the difference between Dutch and Japanese. Our genes prepare us to observe the world; they shape the finest details of the human brain. But as far as psychology is concerned, writes award-winning cognitive scientist Gary Marcus, “it’s almost as if Watson and Crick never met DNA.”

With The Birth of the Mind, Gary Marcus enters the nature vs. nurture debate and changes it forever. Genetics isn’t destiny, but the only way to know what nature brings to the table, he argues, is to take a look at what genes actually do.

Startling findings have recently revealed that the genome is much smaller than we once thought, containing no more than 30,000-40,000 genes. Since this discovery, scientists have struggled to understand how such a tiny number of genes could contain the instructions for building the human brain, arguably the most complex device in the known universe. Synthesizing up-to-the-minute research with his own original findings on child development, Marcus is the first to resolve this apparent contradiction as he chronicles exactly how genes create the infinite complexities of the human mind. Along the way, he reveals the common misconceptions people harbor about genes, and explores the stunning implications of this research for the future of genetic engineering."

quinta-feira, abril 15, 2004

"A Origem do Sonho" Parte III e IV

"Mensageiro do Cosmos"

[Na sombra dos escombros,
“Cada lágrima não merecida chorada por mim,
Uma estrela em vão perdida....”
...os confins do desespero,
Apocalipse do sonho]

Do oceano das almas,
O berço primordial,
Envolto nas sedas divinas,
O Mensageiro Universal.

“Cada lágrima derramada sobre o teu corpo adormecido,
A origem de uma vida, [regresso ao Éden esquecido] ”

Caminhante das águas nocturnas
Portador da Mensagem da Criação
O tempo escreveu sobre ti,
Nas galáxias, a tua missão
[Guardião da semente do sonho]

“A vós que matastes o Ser,
Que violastes o destino do mundo,
Permanecei perdidos no Abismo “
[Espíritos revoltados de volta ao início]

“Elfos, gnomos e fadas,
Erguei-vos da terra ensanguentada,
Criai de novo as raízes
Da Árvore da Fantasia”

Quebrada será a cruz
Onde jaz o Imortal
Revelada a nova nudez
Ao silêncio da ressurreição.

“E nas mãos da próxima Criança,
Uma flor de sublime beldade
A revestir de Verde a dimensão
Numa Verdade reconstruída”

Por mares e montanhas,
Ecoando desde a génese do cosmos

[A Inocência, Profecia de Salvação]




"Cântico Final"

Erguem-se no horizonte os rasgos da manhã
Como profetas
Vestígios intemporais da luz das estrelas

No limite
Sobre as montanhas
A sombra do Mensageiro
Como Guardador de Sonhos


Do sangue da terra
Brotam cânticos de musas,
Cânticos de um novo mundo
Erguendo um corpo moribundo.

Águas puras
[uma gota por cada Poeta]
Sobem desde os oceanos
Até alcançar o céu
Retirando à noite o véu
Que cobria a cruz.

Cânticos do fundo do mar
[esse mar que me seduz]
Navegam através do vento
Como vozes do firmamento
Envolvendo em si,
O choro do nascimento

No final quando tudo recomeçar
O olhar desta criança que me habita
[desde a génese do cosmos]
A última lágrima irá derramar
E dela, como sinal da redenção,
A origem de um novo sonho.

[Cântico final, semente da minha vida]



Nuno M. Tenazinha


"A Origem do Sonho" Parte I e II

Os próximos posts vão ser dedicados a um poema que me deu um tremendo gosto escrever e que encerra muito de mim, da minha vida, dos meus sonhos e utopias.

"Mundo Perdido"

Sacrificados os sonhos
Pela vontade dos Homens,
A escuridão envolve o cenário
Onde o Sonhador crucificado
Observa a estrela cadente
Anunciadora do fim

Noite de pesadelos
De suspiros lancinantes;
Os dois amantes morreram:
O amor perdeu-se
No entrelaçado céu estrelado...

Olhos inocentes de crianças
Encobertos nas brumas crescentes
Choram lágrimas de orvalho
[Murmúrio do condenado]
Que inundam o chão manchado

“Não choreis por mim, filhos do futuro
Que a utopia do novo dia, no vosso sorriso germina”

Inocência desvanecida
Com ela se perde a esperança
Deste imenso paraíso negro;
Esgotaram-se as rosas,
O verde já não é selvagem
Sentenciada a mudança
À miragem de um futuro...
Resignação ao silêncio ancestral

“O meu último desejo:
Envolver-me nos rituais da fantasia,
Emoção de ser uno com todos os seres,
Viver em gotas de magia,
No oceano das almas dos poetas”

[A Árvore em chamas,
Iluminação do amanhecer condenado]




"Desejo de uma Criança"

“Oh! Anjo da Ilusão
Como voltar a sentir-te?
A última pétala negra caiu
E com ela caiu o céu.

Já não se sabe sorrir
Aos encantos das musas de outrora...

Embala na minha canção
As mágoas da tua desilusão
Embarca nas asas de uma Fénix
Revisitar Orion esta noite
Que o teu coração ardente
É a chama deste mundo decadente

Procura a tua alma perfeita
Nos confins do Universo
Lá, onde o Poeta escreveu o Primeiro Verso
Onde perduram no tempo
As memórias do Eleito

Nesta poesia que canto
A melodia suprema dos elfos
Nesta lágrima que choro
O ressurgir da tua magia
A fecundação do novo dia

Nesta noite, o nascimento,
O Desejo de um Amor eterno”




Nuno M. Tenazinha


segunda-feira, abril 12, 2004

Feliz Páscoa

Já vai um pouco tarde, mas...

Feliz Páscoa!

Para a comunidade cristã, esta é uma altura de extrema alegria, que serve para nos dar energia para suportar o resto do ano. Tomemos o exemplo e façamos também dela um momento de reflexão.
(Então quem está na Universidade bem precisa, vamos a meio semestre ;) )

sábado, abril 10, 2004

Sol de uma tarde de Sábado

Eu e o Ang3luz somos do Algarve. Mas há uns anos, quando começámos a nossa vida universitária, ele foi para Lisboa, e eu continuei por cá.
Em Lisboa, ele encontrou uma liberdade que não imaginava aqui. Isto é um meio pequeno, sabe-se tudo de todos, e na indiferença da grande cidade pôde finalmente abrir asas, experimentar o que pensava impossível, fazer o que bem entendesse.

Neste meio pequeno é grave não ir com a maré. As pessoas ignoram, assustam-se, afastam.
É preciso estar no rebanho para ser ouvido, para que nos considerem pessoas, com ou sem mais-valia.
É fechado e abafado.
É absurdo. É enclausurado.
Não se questiona. Não faz parte, não vale a pena, não é *divertido*. Porque é disso que se trata.
Diversão.
Objectivo único, destino final.
Um grande e divertido balão.
E o que é preciso para suportar a diversão?
Dinheiro.
E para saborea-la?
Descompromisso.
Plano de vida: Ganhar muito dinheiro, deixar as coisas andar.
Relax sem compromissos.
E sem honra.

E anda assim o mundo.

sexta-feira, abril 09, 2004

"Once"



P.S.: Esta é a cover do novo album dos Nightwish, "Once".

Pensamento

Disse uma vez o filósofo: "Nenhum homem atravessa o mesmo rio duas vezes. Quando o atravessa pela segunda vez, as água serão outras"

"Também ele não será o mesmo homem", responderam-lhe.

quinta-feira, abril 08, 2004

Para ti, meu amor. Por seres quem és.


Do limite do firmamento
A lua pulsa ardentemente
Em cada Momento

Contigo

E para sempre na eternidade
Cânticos de musas de outrora
Embalam esta paixão

Presente

Filhos de uma utopia:
Vertigem do agora e sempre
Loucura, [amantes], ternura

Rugido do coração,
Universo em expansão,
Infinitamente crescente

Não sou eu nem tu.
[Paixão explosiva,
Harmonia delicada
Numa única esfera]



Nuno M. Tenazinha


quarta-feira, abril 07, 2004

MicroArte - Proteínas

"O essencial é invísivel aos olhos", lá dizia Saint Exupéry. As formas do microcosmos são por vezes de uma beleza indescritível e actualmente já é possível contemplá-las. Várias técnicas espectroscópicas (como por exemplo de cristalografia de raios X) permitem hoje a descrição detalhada da estrutura tridimensional de macromoléculas como são as proteínas e os ácidos nucleicos - o que, por exemplo, a nível enzimático nos permite prever e manipular a funcionalidade de vários enzimas, por meio de técnicas de engª genética.



As imagens acima são representações das várias estruturas tridimensionais de algumas proteínas. É a arte da vida. O ponto de partida para o emergir das formas do macrocosmos.

ver mais: Estruturas Tridimensionais

terça-feira, abril 06, 2004

Momento Zen



"Oh oiçam! este momento
biliões de galáxias começam a suspirar!
este é o primeiro sorriso silencioso
na eternidade
nesta brisa"



Autor: Hogen Yamahata

domingo, abril 04, 2004

A Dança do Sopro

Como já aqui referi várias vezes, uma das coisas que mais me impressiona é aquele instante em que experienciamos o interpenetrar das diferentes dimensões do ser humano. Em 2001 decorreu no Centro Cultural de Belém um espectáculo chamado "Dança do Sopro", dirigido por Georges Stobbaerts e Luís Damas onde a dança se misturava, numa simbiose perfeita, com as artes do movimento do Oriente.



"A Dança e o Budo têm, para além de uma semelhança, a mesma raiz e os mesmos objectivos. O aspecto semelhante é óbvio de imediato, porque ambas as artes têm um lado coreográfico, sonoro e gestual, mais ou menos expressivo ou mais ou menos interiorizado. A raiz é idêntica porque a respiração é essencial, o corpo é o mesmo e movimenta-se na tentativa de alcançar o equilíbrio, de realçar e explorar novas formas ou até de se confundir com a natureza. Os objectivos são idênticos ainda, porque, em ambos os casos, se pretende um espírito desperto, em estado de alerta, e disponível para o imprevisto. Na Dança e no Budo, as situações apresentam-se, por vias diferentes mas convergentes, como que envoltas por um encantamento onde a busca da beleza nos revela a essência da Arte."


Georges Stobbaerts é um profundo conhecedor do Oriente e do Ocidente e a forma como consegue transmitir essa sua fascinação é poesia para os meus ouvidos. Já no ano de 2002 decorreu no Centro Cultural Olga Cadaval um evento semelhante (a evolução natural do primeiro), o Festival TenChi onde participaram também Maria João e Rão Kyao.





sábado, abril 03, 2004

Back in the old days...

Estes últimos dias têm-me feito lembrar os meus tempos de gamer. E isto porque ando viciado num jogo como não andava à anos. Estar na escola a contar as horas que faltam até chegar a casa, jogar durante horas e não me importar com o tempo que passou, ou o prazer de acordar no Sábado de manhã e saber que temos a manhã toda por nossa conta...

Nunca deixei de jogar, mas desde o secundário que perdi a paixão. Continuava a achar alguns divertidos (ainda há pouco tempo acabei o Prince of Persia: Sands of Time), mas não deixava de os sentir como uma perda de tempo. No fundo, sentia pena por os jogos não conseguirem fazer-me 'vibrar' como antes. E acho bastante irónico o jogo que me fez voltar a sentir assim ser o Final Fantasy X, até porque é um estilo para o qual não tenho realmente paciência (aquelas random battles...), e também porque joguei todos os que estavam para trás (excepto o IX) e o único que tive pâciencia para acabar foi o VII, e mesmo assim com grandes hiatos no meio.

A ver se este consigo acabar =)

Enquanto passeava hoje pela net, encontrei um artigo onde pegaram nuns quantos miúdos e puseram-nos a jogar aqueles jogos que os nossos pais teriam jogado, tivessem eles crescido na America. Muito curioso (mas pouco surpreendente) ver o que os miúdos americanos da geração Playstation dizem de clássicos como o Pong, o Tetris e até o Super Mario Bros, da NES.
O artigo aqui.

sexta-feira, abril 02, 2004

Estágio Internacional de Budo e YAMATO

E já que estamos numa de divulgação, aqui estão dois eventos que são [a meu ver] imperdíveis [se não obrigatórios :p]

Estágio Internacional de Budo
A realizar de 16 a 18 de Abril no Dojo TenChi, na Várzea de Sintra [para quem não conhece, aconselho vivamente - é um lugar lindo!]. O estágio vai contar com várias disciplinas como o Aikido, o Kendo, o JiuJutsu e o TenChi Tessen. A direcção está a cargo de Georges Stobbaerts Hanshi.

+info: Horários
Preços


YAMATO - Vozes do Coração
Como já aqui tinha anunciado no mês passado, o grupo de tambores japoneses YAMATO, vem a Portugal para uma série de cinco espectáculos que vão decorrer no Centro Cultural de Belém entre os dias 14 e 18 de Abril (Grande Auditório).
"Os tambores existem desde tempos imemoriais e o seu som mexe com as pessoas independentemente da idade, religião ou origem. Quando nós tocamos os nossos tambores, devotamo-nos por inteiro ao esforço de produzir um som que represente a pulsação da própria vida. Com a nossa música queremos transmitir o ritmo do bater do coração, a essência de todas as coisas vivas. Quando actuamos, sentimos o ritmo e o calor da vida que pode ser encontrada nos quatro cantos da terra e que nos dá força e coragem para aceitar a vida tal qual ela é.

Este é o sentimento que queremos partilhar com o público. O nosso treino intensivo permite-nos fazer com que esta "pulsação" ecoe em todo o mundo, por vezes de uma forma subtil, outras tantas imbuída de uma força enorme. Sempre que o nosso rufar está em compasso com a pulsação do público cria-se uma onda de energia que enfatiza a nossa força e desejo de actuar"

+info: Bilhetes



Associação Portuguesa das Artes do Movimento e das Músicas Sagradas do Mundo

Aqui vai um pouco de serviço público. A associação que se segue é presidida por Georges Stobbaerts (Hanshi), um belga residente em Portugal, um Mestre no sentido mais lato do termo e uma pessoa que eu admiro muito. Uma pessoa que num mundo cada vez mais plural e dividido procura a reunião, a partilha e a troca de experiências.



Para quem se pergunte o que é que faz uma associação com este nome, aqui ficam alguns dos seus objectivos, retirados do site oficial.

1) Promover o desenvolvimento cultural e social no âmbito das artes do movimento e das músicas sagradas do mundo.
2) Promover o diálogo e a interacção entre culturas e civilizações.
3) Promover uma cultura de paz e a mundialização dos valores éticos e espirituais, no sentido de aproximação e compreensão das civilizações.
4) Favorecer todas as iniciativas fundadas sobre os mesmos valores e objectivos e convidar as associações e organizações que se proponham seguir os mesmos principios.

+info: TenChi International