sexta-feira, abril 29, 2005

Post da semana

Tenho andado sem tempo nenhum para postar porque o IST tem requerido uma dose acrescida de dedicação. De qualquer forma não queria entrar no fim de semana sem deixar aqui um post e ao ler o livro "GENOMA: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos" de Matt Ridley, encontrei uma frase que achei de uma beleza sublime. Aqui fica.
"O cérebro, o corpo e o genoma, estão os três aprisionados numa dança."
De certa forma estão aqui conjugados todos os factores que me fascinam na ciência. A forma como as várias áreas se interpenetram. Como a simplicidade origina estruturas de complexidade extrema. E como tudo no Universo é de uma subtileza genial.

sexta-feira, abril 22, 2005

Censura EUA - Tenjou Tenge

Lançaram nos Estados Unidos o manga do Tenjou Tenge, conhecido por ter muita violência e um forte cariz sexual. Mas parece que a editora (CMX) quis alargar o público alvo e deu-se ao trabalho de "adaptar" o manga:





Todas as alterações que foram feitas estão expostas no site que está a promover uma campanha contra esta censura

quinta-feira, abril 21, 2005

Gay: Ser ou não ser - II

Já falei aqui das questões levantadas quando se fala numa possível opção sexual, face a uma orientação sexual. Este segundo post vai tomar uma perspectiva um pouco diferente daquela que escolhi para o anterior, de forma a tentar encontrar aquilo que define a homossexualidade. Atracção sexual ou Amor? É unânime que a homossexualidade é um traço bastante complexo do espectro do comportamento humano - com algum grau de hereditariedade materna já mostrado, que parece estar relacionado com a ordem de nascimento dos filhos [apenas demonstrado para a homossexualidade masculina], associado a uma série de factores ambientais que no fim convergem para definir uma identidade sexual. Um dos grandes problemas da ciência experimental é o de definir a homossexualidade. O que é que a distingue, que pode ser utilizado como ponto de partida para estudos? A minha resposta a esta questão é simples: depende. E depende do contexto em que falamos de homossexualidade. Embora seja um comportamento horizontal a várias espécies, com maior ou menor incidência, tem diferentes expressões, sendo que nos humanos ganha a nossa dimensão característica: a afectividade consciente. E para esta análise, um paralelismo com a evolução da heterossexualidade pode ser pedagógico: primeiro evoluiu a reprodução como forma de propagar os genes; depois, à medida que o cérebro foi sendo adaptado, apareceu a atracção sexual e os rituais de acasalamento, como forma de optimizar a procriação. Em paralelo desenvolveram-se os mecanismos internos de prazer que revolucionaram a sexualidade humana, porque permitiram aquilo que só desde há umas décadas começou a ser observado no restante reino animal: o acto sexual como forma de retirar prazer do corpo e sem fins meramente reprodutivos. O espectro de comportamentos sexuais fundou-se algures no meio deste processo evolutivo.
Urge portanto fazer uma diferenciação entre aquilo que se entende por relações homossexuais no mundo animal de modo geral, que passa muitas vezes por mero prazer ou como forma de regulação de complexas teias sociais; e aquilo que acontece entre dois homens ou duas mulheres e que envolve algo de muito mais complexo, mesmo do ponto de vista evolutivo: a afectividade. Não faz sentido falar em bonobos ou pinguins gays [como tanto acontece pelos media], pelo menos não da mesma forma em que nos referimos à nossa espécie. O bonobo, um chimpanzé da espécie Pan paniscus, é um dos exemplos mais estudados e citados onde existem comportamentos homossexuais frequentes: que abrangem quer machos a montar machos ou fêmeas a montar fêmeas, quer contacto oral-genital ou masturbação - estas actividades são geralmente vistas como formas de suavizar certas tensões sociais dentro da comunidade de chimpanzés [quem ainda não ouviu falar do poder que um orgasmo tem para relaxar?]. Mas isto não faz do bonobo gay, da mesma forma que dois homens ou duas mulheres, que estabelecem uma intimidade, um lado emocional e de companheirismo profundo que pode ou não estar associado à componente sexual [embora frequentemente esteja].
No entanto, não obstante todas estas diferenças comportamentais, parece haver uma convergência que está na base: a atracção sexual. Penso que é neste ponto que reside o papel do determinismo genético sexual, que actua antes como uma forma de predisposição, a partir da qual se irá construir a pessoa em todas as suas vertentes; e penso que será a partir de aqui que a ciência irá prosseguir nos próximos tempos com base nos conhecimentos adquiridos até agora, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.
Mas de qualquer forma, as ciências sociais não devem actuar a este nível, porque se devem adaptar às necessidades das pessoas. Não podemos esperar que as ciências biológicas percebam e descrevam todo o comportamento sexual humano para que se actue: entretanto terá passado o tempo em que milhares de pessoas procuraram a felicidade.
Da próxima vez que se cruzarem com um casal de pessoas do mesmo sexo, tragam à memória todas as questões que levantei aqui neste últimos dois posts. Observem. E tentem ver para além do preconceito enraízado. Recordem o cenário da transfiguração das personagens e de como as realidades muitas vezes nos são ocultas.
Optem por deixar os outros ser felizes.



P.S.: Aren't they cute?

quarta-feira, abril 20, 2005

Gay: Ser ou não ser - I

Há algum tempo atrás, numa conversa de MSN com o J., perguntava-me ele o que é que definia um gay: se a atracção sexual, se a dimensão emocional, se outros (isto a propósito de se poder optar ou não por ser gay) - este post vem quase no seguimento do anterior Controvérsias do Amor. Então quanto a esta última questão (de opção versus orientação sexual), a resposta parece-me um tanto ou quanto óbvia e, se restarem dúvidas, uma breve reflexão acerca do assunto poderá ser elucidativa. Primeiramente, fará sentido, no contexto da sociedade actual, optar por ser homossexual? Passar por todo um processo de exclusão social, de problemas familiares e frustações pessoais? - e para quem não tem verdadeira noção de todas estas problemáticas, pesquise um pouco na internet, não faltam blogs e testemunhos pessoais daquilo que é sentir-se discriminado. Continuando. E a necessidade de manter uma relação no anonimato? Naquelas alturas em que andamos apaixonados e nos apetece partilhar a nossa vida com o mundo? E a sensação de ver casais de mãos dadas, passeando-se pela rua sem problemas, aos beijos, com trocas de carinho, enquanto muitas vezes nos temos de resignar a um aperto de mão ou um sorriso mais cúmplice? Estas são questões pertinentes perante as quais nos deveríamos colocar quando falamos numa opção sexual. E por outro lado, fará sentido optar por uma relação heterossexual, podendo inclusivé contrair matrimónio, e viver uma vida de sentidos frustrados? Sim, porque falamos de sentimentos e emoções, e por vezes dos mais básicos instintos. Imaginemos então a seguinte situação: o leitor vai a andar calmamente na rua e, sem se dar conta, sente uma erecção [um fenómeno bastante frequente!] - e agora? Olha em volta e apercebe-se que poderá ter sido do olhar penetrante da mulher de vestido vermelho que passou por si, ou da postura sedutora de uma outra de pernas cruzadas sentada na esplanada ou simplesmente de uma qualquer imagem instantanea de conteúdo porno-erótico com estas duas personagens. Delicia-se com a imagem e, se o à vontade o permitir, mete conversa e envereda pelo complexo jogo de sedução, caso contrário, segue em frente descontraidamente. Agora imagine que essas duas mulheres não existiam e no seu lugar estava um homem de jeans justos realçando as formas e olhar viril e um outro sentado na esplanada, com uma atitude desportiva e com uma t-shirt suada colada ao corpo. O contexto físico é em tudo semelhante, com outras personagens. Mas a erecção mantém-se. Parece óbvio que não pode evitar esta situação - a hidráulica do pénis é controlada pelos mecanismos internos do cérebro humano em que o óxido nítrico activa a dilatação dos vasos sanguíneos originando a erecção. Então agora vem o passo em que o leitor pode optar: aceita o impulso sexual que experienciou e envereda pelo mesmo jogo de sedução de há pouco ou, o mais provável, segue em frente porque não acredita no que acabou de sentir ou porque a perspectiva de uma má reacção por parte dos outros dois homens o deixa incomodado. Mas muitas vezes esta erecção irá voltar a acontecer e, principalmente na altura da adolescência e início da idade adulta, quando os níveis hormonais estão no seu auge, quando a maioria dos amigos inicia a sua vida sexual e gosta de a partilhar, poderá tornar-se bastante frustante. E reparem que até agora ainda não nos debruçámos sobre a dimensão emocional das relações humanas - que torna tudo bem mais complexo.
As questões levantadas anteriormente, quando entendidas e solucionadas por cada um de nós, conduzem a um caminho evidente. A opção existe. Sermos nós próprios.

[continua..]



P.S.: No post refiro-me mais à homossexualidade vista do ponto de vista do homem, simplesmente porque se torna mais fácil conciliar a minha experiência pessoal com aquilo que tento expressar. De qualquer maneira as extrapolações para a homossexualidade feminina são intuitivas, enquadradas dentro do contexto feminino.

segunda-feira, abril 18, 2005

The Meaning of Life



"Well, it's nothing special. Try and be nice to people, avoid eating fat, read a good book every now and then, get some walking in and try and live together in peace and harmony with people of all creeds and nations."
Monty Python's 'The Meaning of life', 1983

domingo, abril 17, 2005

TenChi Tessen - Arte do Movimento

Quem assistiu à abertura dos Globos de Ouro 2004 na SIC teve o prazer de assistir a uma breve apresentação de várias coreografias étnicas e de diferentes culturas mundiais - nas quais inseriram o TenChi Tessen, criando um efeito muito interessante. O Tenchi Tessen é uma arte desenvolvida por Georges Stobbaerts Hanshi, um grande mestre e mentor do projecto TenChi International, de que já falei aqui.
Sempre gostei imenso desta arte, pelo que representa de um ponto de vista conceptual, pelo significado estético que lhe está inerente, pela fusão harmoniosa de uma série de artes orientais e ocidentais com a música e com o gesto.

"O TenChi Tessen, criado em 1985 por Georges Stobbaerts, é a arte em que o leque substitui o sabre. Envolvendo o corpo e o sopro, pondo em harmonia movimento, som , música e silêncio, permite descobrir a quem o pratica uma estrutura espacial.

O japonês, Ten Chi significa o par primordial Céu-Terra, entre os quais se ergue o homem. O Tessen é o leque, que representa a simbólica do sopro na vida, o elo de ligação entre o Terra e o Céu.

O TenChi Tessen na sua prática, procura a união e a harmonia destes dois elementos, por meio do não conflito e do diálogo. Através das técnicas desta arte do Movimento, o praticante está à escuta do seu corpo e, liberto de todas as tensões, apaziguando o espírito, dá livre curso ao movimento que harmoniza as energias, sendo solicitado a solicitado a comunicar com o outro com o outro segundo o princípio bi-polar e a escuta do outro.

A música no TenChi Tessen nasceu de uma necessidade de fusão do movimento com o som. Os movimentos desta arte e a música são praticados numa comunhão mútua e sincera, tornam-se indissociáveis pois praticantes e músicos têm a mesma finalidade, não seguem caminhos paralelos e por isso manifestam-se no instante presente.

Esta arte do Movimento é o fruto de uma experiência nas artes em geral, elaborada em domínios diversificados como a mitologia indiana, a filosofia chinesa as artes marciais, a iconografias, o yoga, o zen, o teatro e a música. Domínios diferentes mas têm um ponto em comum: uma dimensão cósmica."

Apresentação do TenChi Tessen pela Escola Tenchi International




sábado, abril 16, 2005

"The Silent Force"

Nos últimos tempos comecei a ouvir o mais recente album dos holandeses Within Temptation, o "The Silent Force". Fiquei agradavelmente admirado. Começa com uma intro muito "lordoftheringish" e depois vai ganhando corpo em músicas como Jillian, Forsaken e Memories. Tal como no "Once" dos Nightwish, o metal sinfónico com orquestras e coros ganha aqui grande expressão, conferindo ao album no seu todo um sentimento de banda sonora [no entanto ainda não encontrei voz que superasse a da Tarja Turunen (Nightwish), embora a Sharon den Adel também tenha um bom desempenho neste album]. Aqui estão bandas que já deviam vir a Portugal fazer uma tour. E já que estamos numa de metal, sugiro também o "Invisible Circles" dos After Forever.

quinta-feira, abril 14, 2005

Strike the pose.. CAT!



Ando sem tempo para postar nada porque o trabalho começou a apertar na faculdade - vejamos se é desta que começo a trabalhar em Genómica Funcional e Bioinformática... entretanto parece que sempre tenho hipótese de ir para Erasmus em Delft, Holanda. Que me esperará daqui a um ano? Time will tell.

De qualquer forma, hoje lembrei-me do meu gato [ao qual sou alérgico e que me deixa sempre de cama quando vou a Faro, mas isso são pormenores]. Não sei porquê, mas gosto do gato - talvez porque até agora só tinha tido peixes e hamsters... parece que a pouco e pouco vou subindo na cadeia alimentar :)

terça-feira, abril 12, 2005

Trabalho de Grupo

Hoje tive um bom fim de dia de trabalho.

Conhecem aqueles dias em que se vai para casa com a sensação que se produziu algo?

Esta tarde, eu e mais uns colegas (8) fomos para uma sala vazia. E lá estávamos a trabalhar individualmente,ou no projecto que estava mais atrasado, ou a estudar para o teste mais próximo, cada um no seu grupo de 2. Este nível de concentração é um acontecimento tão raro que merece um post no blog =)

O ambiente teve a ver com as pessoas que lá estavam, e talvez ainda mais com as que não estavam. Para mim não é dificil imaginar um elemento mais calão a descambar toda aquela situação. Sim, porque acho que estar constantemente a dizer que a Univ é uma merda, a insultar e a culpar os profs, e a não se dedicar minimamente às coisas, não favorece o estudo. Nem dele, nem dos outros.

sábado, abril 09, 2005

Tempo de Poesia

Há muito tempo que não faço nenhum post sobre poesia. A poesia sempre foi uma constante na minha vida, muito incentivado por uma professora minha de Físico-Química do 9º ano, que me expandiu os horizontes para além da ciência e das artes . Por isso, hoje quando me apeteceu falar aqui de poesia, lembrei-me de um poeta que sempre admirei - de seu nome António Gedeão, ou também Rómulo de Carvalho, enquanto professor de Ciências Fisico-Químicas. Aqui fica então o seu "Tempo de Poesia".

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qua amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.



quinta-feira, abril 07, 2005

When death embraces us...

Por vezes somos apanhados desprevenidos. Um dos grandes fantasmas que temos em vida é exactamente aquilo que a define: a morte. Hoje, embora não directamente, isso tocou-me a mim e a muitos dos meus colegas no IST. Não é a primeira vez que me acontece, nem será certamente a última. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que tive um contacto mais directo com a morte: era pequeno e o telefone tocou de manhã. O meu avô tinha morrido e eu tive de telefonar à minha mãe para lhe dar a notícia, sabendo à partida a revolução emocional que isso causaria. E causou. De certa forma fui sempre eu que anunciei aos meus pais quando os meus avós faleceram. E de todas as vezes me ficava aquela sensação de vazio, de um espaço que foi criado. Mas de tudo isto aquilo que me comove mais é a dor dos que ficam. E lembro-me vivamente de ver a minha mãe chorar como uma criança, e a forma como isso me marcou.
Mas em nenhuma das vezes participei no funeral dos meus avós. Faz-me confusão os rituais que envolvem a morte, pela morbidez envolvida, e principalmente pelo vazio que lhes está associado. Sou ateu. A inevitabilidade da morte é tão clara como o facto de estar aqui e respirar. A homenagem feita à memória de todos que por cá passam não pode ser feita senão no enaltecimento da pessoa, naquilo que foi enquanto ser humano. Não quero parecer frio e insensível, nada disso: só não acredito em rituais para a morte, rituais estes que dependem das vivências religiosas das pessoas e que só fazem portanto sentido nesse contexto. A dor daqueles que perdem alguém apenas pode ser suplantada pela demonstração do meu Amor, pelos actos interpessoais. Por isso ainda lembro hoje os momentos em que a minha avó Isabel me tocava a face, reconstruindo a minha imagem em si [a minha avó era cega desde jovem], me dizia o quão gostava de me sentir; ainda me lembro da minha avó Maria rodopiando pelos cantos da casa do Alentejo, num frenesim total preparando os pequenos-almoços aos netos; lembro-me do avô Joaquim na horta em albufeira a apanhar laranjas e nêsperas e do seu mau feitio; e do avô Manel com a sua infinita paciência e sabedoria. Estão guardados na criança que cresceu com eles.
Por isso F. tens o meu apoio e amizade em tudo o que precisares; os próximos tempos vão ser complicados e dolorosos, sem dúvida. É difícil lidar com a perda de alguém que nos é tão próximo e querido - e que nos deu vida. Mas o tempo voltará irremediavelmente a trazer as coisas ao seu lugar. Um beijo e um abraço.

Nuno

"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, abril 05, 2005

O mais caro

Há pessoal que consegue mais dinheiro do que devia porque arma-se em esperto quando vende ou faz as coisas. Mas como vivemos num país de espertos, ele não vai aproveitar o dinheiro, porque vai gastá-lo a mais com outro esperto qualquer. Chega-se à conclusão que Portugal é um país caro com baixos ordenados porque tem um elevado índice de esperteza ^^

sábado, abril 02, 2005

Controvérsias do Amor

No outro dia li um comentário do autor do blog Intimista, o sr. Peixoto, em que este se referia ao amor entre duas pessoas do mesmo sexo como "amor", em que as aspas enfatizam certamente uma diferença no tipo de sentimento nutrido por pessoas homossexuais. Este tipo de posição, por ser altamente preconceituosa, deixou-me a pensar: será que é assim tão frequente as pessoas pensarem que não é possível duas pessoas do mesmo sexo amarem-se, na verdadeira acepção da palavra? Principalmente porque tenho uma relação há quase três anos com o rapaz que mais adoro à face da Terra e gostaria de perceber se tenho estado enganado durante este tempo todo [...].

É que basta conviver com alguns casais de namorados/casais homossexuais para perceber a questão. Mesmo assim façamos aqui um pequeno exercício intelectual. Já li comentários do mesmo senhor em que ele se refere ao amor entre pais e filhos (e aqui não usa aspas). Ora filhos pressupõe ambos os sexos - e não passa pela cabeça de ninguém pôr em causa o amor que um pai nutre por um filho e vice-versa (e esta discriminação expressa-se ainda pelo facto de muitos filhos cumprimentarem o pai com um beijo, sem qualquer problema, mas a mesma situação, num contexto adulto, já poder causar repúdio). Poderão argumentar que a natureza do amor é diferente. De facto. Mas isto pode ser analisado de duas formas. A primeira: é óbvio que entre dois adultos o sentimento de afeição é geralmente acompanhado de uma atracção sexual, mas neste caso o problema é desviado claramente para o nível sexual (não passa pela cabeça de ninguém que dois homens ou duas mulheres não possam nutrir sentimentos uns pelos outros!) - e aí voltamos à questão primordial do sexo homossexual ser "contra-natura", causando por isso repúdio. Isso é uma questão que merece só por si um post (que a seu tempo virá), mas qualquer homossexual poderá facilmente derrubar essa ideia. Trata-se portanto de preconceito.
Quanto à segunda análise: a natureza do sentimento nunca pode ser diferente, pelo menos não biologicamente. Os sentimentos são, segundo Damásio e outros neurocientistas, uma evolução interessante da emoção e por isso são assexuados. Construido sobre a tela da consciência, partindo dos instintos emotivos mais básicos. Mas do ponto de vista da aceitação social isto é apenas um pormenor. Dizer que duas pessoas do mesmo sexo são incapazes de amar é, no mínimo, irracional.
A todos esses que ainda vivem com este preconceito, tentem amar-se mais a vocês e ao próximo. De certeza que seriam melhores pessoas no Mundo.



sexta-feira, abril 01, 2005

Once there was a child's heart