Gay: Ser ou não ser - II
Já falei aqui das questões levantadas quando se fala numa possível opção sexual, face a uma orientação sexual. Este segundo post vai tomar uma perspectiva um pouco diferente daquela que escolhi para o anterior, de forma a tentar encontrar aquilo que define a homossexualidade. Atracção sexual ou Amor? É unânime que a homossexualidade é um traço bastante complexo do espectro do comportamento humano - com algum grau de hereditariedade materna já mostrado, que parece estar relacionado com a ordem de nascimento dos filhos [apenas demonstrado para a homossexualidade masculina], associado a uma série de factores ambientais que no fim convergem para definir uma identidade sexual. Um dos grandes problemas da ciência experimental é o de definir a homossexualidade. O que é que a distingue, que pode ser utilizado como ponto de partida para estudos? A minha resposta a esta questão é simples: depende. E depende do contexto em que falamos de homossexualidade. Embora seja um comportamento horizontal a várias espécies, com maior ou menor incidência, tem diferentes expressões, sendo que nos humanos ganha a nossa dimensão característica: a afectividade consciente. E para esta análise, um paralelismo com a evolução da heterossexualidade pode ser pedagógico: primeiro evoluiu a reprodução como forma de propagar os genes; depois, à medida que o cérebro foi sendo adaptado, apareceu a atracção sexual e os rituais de acasalamento, como forma de optimizar a procriação. Em paralelo desenvolveram-se os mecanismos internos de prazer que revolucionaram a sexualidade humana, porque permitiram aquilo que só desde há umas décadas começou a ser observado no restante reino animal: o acto sexual como forma de retirar prazer do corpo e sem fins meramente reprodutivos. O espectro de comportamentos sexuais fundou-se algures no meio deste processo evolutivo.
Urge portanto fazer uma diferenciação entre aquilo que se entende por relações homossexuais no mundo animal de modo geral, que passa muitas vezes por mero prazer ou como forma de regulação de complexas teias sociais; e aquilo que acontece entre dois homens ou duas mulheres e que envolve algo de muito mais complexo, mesmo do ponto de vista evolutivo: a afectividade. Não faz sentido falar em bonobos ou pinguins gays [como tanto acontece pelos media], pelo menos não da mesma forma em que nos referimos à nossa espécie. O bonobo, um chimpanzé da espécie Pan paniscus, é um dos exemplos mais estudados e citados onde existem comportamentos homossexuais frequentes: que abrangem quer machos a montar machos ou fêmeas a montar fêmeas, quer contacto oral-genital ou masturbação - estas actividades são geralmente vistas como formas de suavizar certas tensões sociais dentro da comunidade de chimpanzés [quem ainda não ouviu falar do poder que um orgasmo tem para relaxar?]. Mas isto não faz do bonobo gay, da mesma forma que dois homens ou duas mulheres, que estabelecem uma intimidade, um lado emocional e de companheirismo profundo que pode ou não estar associado à componente sexual [embora frequentemente esteja].
No entanto, não obstante todas estas diferenças comportamentais, parece haver uma convergência que está na base: a atracção sexual. Penso que é neste ponto que reside o papel do determinismo genético sexual, que actua antes como uma forma de predisposição, a partir da qual se irá construir a pessoa em todas as suas vertentes; e penso que será a partir de aqui que a ciência irá prosseguir nos próximos tempos com base nos conhecimentos adquiridos até agora, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.
Mas de qualquer forma, as ciências sociais não devem actuar a este nível, porque se devem adaptar às necessidades das pessoas. Não podemos esperar que as ciências biológicas percebam e descrevam todo o comportamento sexual humano para que se actue: entretanto terá passado o tempo em que milhares de pessoas procuraram a felicidade.
Da próxima vez que se cruzarem com um casal de pessoas do mesmo sexo, tragam à memória todas as questões que levantei aqui neste últimos dois posts. Observem. E tentem ver para além do preconceito enraízado. Recordem o cenário da transfiguração das personagens e de como as realidades muitas vezes nos são ocultas.
Optem por deixar os outros ser felizes.
Urge portanto fazer uma diferenciação entre aquilo que se entende por relações homossexuais no mundo animal de modo geral, que passa muitas vezes por mero prazer ou como forma de regulação de complexas teias sociais; e aquilo que acontece entre dois homens ou duas mulheres e que envolve algo de muito mais complexo, mesmo do ponto de vista evolutivo: a afectividade. Não faz sentido falar em bonobos ou pinguins gays [como tanto acontece pelos media], pelo menos não da mesma forma em que nos referimos à nossa espécie. O bonobo, um chimpanzé da espécie Pan paniscus, é um dos exemplos mais estudados e citados onde existem comportamentos homossexuais frequentes: que abrangem quer machos a montar machos ou fêmeas a montar fêmeas, quer contacto oral-genital ou masturbação - estas actividades são geralmente vistas como formas de suavizar certas tensões sociais dentro da comunidade de chimpanzés [quem ainda não ouviu falar do poder que um orgasmo tem para relaxar?]. Mas isto não faz do bonobo gay, da mesma forma que dois homens ou duas mulheres, que estabelecem uma intimidade, um lado emocional e de companheirismo profundo que pode ou não estar associado à componente sexual [embora frequentemente esteja].
No entanto, não obstante todas estas diferenças comportamentais, parece haver uma convergência que está na base: a atracção sexual. Penso que é neste ponto que reside o papel do determinismo genético sexual, que actua antes como uma forma de predisposição, a partir da qual se irá construir a pessoa em todas as suas vertentes; e penso que será a partir de aqui que a ciência irá prosseguir nos próximos tempos com base nos conhecimentos adquiridos até agora, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.
Mas de qualquer forma, as ciências sociais não devem actuar a este nível, porque se devem adaptar às necessidades das pessoas. Não podemos esperar que as ciências biológicas percebam e descrevam todo o comportamento sexual humano para que se actue: entretanto terá passado o tempo em que milhares de pessoas procuraram a felicidade.
Da próxima vez que se cruzarem com um casal de pessoas do mesmo sexo, tragam à memória todas as questões que levantei aqui neste últimos dois posts. Observem. E tentem ver para além do preconceito enraízado. Recordem o cenário da transfiguração das personagens e de como as realidades muitas vezes nos são ocultas.
Optem por deixar os outros ser felizes.
P.S.: Aren't they cute?
<< Home