quarta-feira, abril 20, 2005

Gay: Ser ou não ser - I

Há algum tempo atrás, numa conversa de MSN com o J., perguntava-me ele o que é que definia um gay: se a atracção sexual, se a dimensão emocional, se outros (isto a propósito de se poder optar ou não por ser gay) - este post vem quase no seguimento do anterior Controvérsias do Amor. Então quanto a esta última questão (de opção versus orientação sexual), a resposta parece-me um tanto ou quanto óbvia e, se restarem dúvidas, uma breve reflexão acerca do assunto poderá ser elucidativa. Primeiramente, fará sentido, no contexto da sociedade actual, optar por ser homossexual? Passar por todo um processo de exclusão social, de problemas familiares e frustações pessoais? - e para quem não tem verdadeira noção de todas estas problemáticas, pesquise um pouco na internet, não faltam blogs e testemunhos pessoais daquilo que é sentir-se discriminado. Continuando. E a necessidade de manter uma relação no anonimato? Naquelas alturas em que andamos apaixonados e nos apetece partilhar a nossa vida com o mundo? E a sensação de ver casais de mãos dadas, passeando-se pela rua sem problemas, aos beijos, com trocas de carinho, enquanto muitas vezes nos temos de resignar a um aperto de mão ou um sorriso mais cúmplice? Estas são questões pertinentes perante as quais nos deveríamos colocar quando falamos numa opção sexual. E por outro lado, fará sentido optar por uma relação heterossexual, podendo inclusivé contrair matrimónio, e viver uma vida de sentidos frustrados? Sim, porque falamos de sentimentos e emoções, e por vezes dos mais básicos instintos. Imaginemos então a seguinte situação: o leitor vai a andar calmamente na rua e, sem se dar conta, sente uma erecção [um fenómeno bastante frequente!] - e agora? Olha em volta e apercebe-se que poderá ter sido do olhar penetrante da mulher de vestido vermelho que passou por si, ou da postura sedutora de uma outra de pernas cruzadas sentada na esplanada ou simplesmente de uma qualquer imagem instantanea de conteúdo porno-erótico com estas duas personagens. Delicia-se com a imagem e, se o à vontade o permitir, mete conversa e envereda pelo complexo jogo de sedução, caso contrário, segue em frente descontraidamente. Agora imagine que essas duas mulheres não existiam e no seu lugar estava um homem de jeans justos realçando as formas e olhar viril e um outro sentado na esplanada, com uma atitude desportiva e com uma t-shirt suada colada ao corpo. O contexto físico é em tudo semelhante, com outras personagens. Mas a erecção mantém-se. Parece óbvio que não pode evitar esta situação - a hidráulica do pénis é controlada pelos mecanismos internos do cérebro humano em que o óxido nítrico activa a dilatação dos vasos sanguíneos originando a erecção. Então agora vem o passo em que o leitor pode optar: aceita o impulso sexual que experienciou e envereda pelo mesmo jogo de sedução de há pouco ou, o mais provável, segue em frente porque não acredita no que acabou de sentir ou porque a perspectiva de uma má reacção por parte dos outros dois homens o deixa incomodado. Mas muitas vezes esta erecção irá voltar a acontecer e, principalmente na altura da adolescência e início da idade adulta, quando os níveis hormonais estão no seu auge, quando a maioria dos amigos inicia a sua vida sexual e gosta de a partilhar, poderá tornar-se bastante frustante. E reparem que até agora ainda não nos debruçámos sobre a dimensão emocional das relações humanas - que torna tudo bem mais complexo.
As questões levantadas anteriormente, quando entendidas e solucionadas por cada um de nós, conduzem a um caminho evidente. A opção existe. Sermos nós próprios.

[continua..]



P.S.: No post refiro-me mais à homossexualidade vista do ponto de vista do homem, simplesmente porque se torna mais fácil conciliar a minha experiência pessoal com aquilo que tento expressar. De qualquer maneira as extrapolações para a homossexualidade feminina são intuitivas, enquadradas dentro do contexto feminino.