terça-feira, setembro 27, 2005

Ciência do Sexo - parte II

Na sequência dos posts "Ciência do Sexo", vou aproveitar para responder a uma pergunta que deixaram nos comentários e que vai no seguimento lógico do post anterior - porque razão a fecundação se dá apenas com um espermatozóide por óvulo? A penetração por mais de um espermatozóide, fenómeno de seu nome polispermia, é fatal para o desenvolvimento embrionário, pois dele pode resultar uma segregação cromossomal deficiente. O processo de selecção começa a partir do momento da ejaculação: dos cerca de 300 milhões de espermatozóides ejaculados apenas uma centena alcançará as trompas. A adicionar a isto, todos eles deverão ser capacitados para que a fertilização possa acontecer. No entanto o óvulo desenvolveu mecanismos mais específicos para evitar a polispermia, os quais variam um pouco de espécie para espécie, mas que caiem em dois grandes grupos: o bloqueio rápido e o bloqueio lento.



1) Bloqueio Rápido: posteriormente ao processo apresentado no ultimo post, vai ocorrer um fluxo de iões cálcio para o interior da célula que leva a uma despolarização da membrana plasmática (alterando o potencial intermembranar) - esta alteração vai temporariamente impedir que novos espermatozóides fundam a a sua membrana com a do oócito.

2) Bloqueio Lento (esquematizado na animação): a fusão do espermatozóide ao oócito vai também provocar a secreção de iões cálcio do retículo endoplasmático (um organelo intracelular), o que desencadeia a fusão de várias vesículas, os granulos corticais (a vermelho, na animação), com a membrana plasmática - isto liberta enzimas degradadoras (proteases) que vão destruir os receptores para os espermatozóides existentes na camada de glicoproteínas (zona pelúcida). Isto conduz depois a um enrijecimento da zona pelúcida, dando origem ao invólucro de fertilização, e assegurando uma protecção permanente (mas mais lenta) à penetração de novos espermatozóides.

sábado, setembro 24, 2005

Bairro Alto

O Bairro Alto atrai pessoas à noite como a toca atrai os morcegos. Altos ou baixos, magros ou gordos, pretos ou brancos, betos ou freaks, gays ou straights, todos têm os seus cantinhos predilectos, onde encontram pessoas como eles próprios ou então muito diferentes. Desde que me lembro de Lisboa que sei que o Bairro é um pólo preferencial para as saídas à noite, mas sei também que já foi conotado como muito dark e como um sítio a evitar por ser perigoso. Hoje em dia, o que leva as pessoas a optar pelo Bairro é mesmo essa característica, aliada à cada vez maior apetência pelo público em geral pela diversidade. Os sítios vão desde os bares góticos aos bares lounge, passando pelas casas de chá ou pela simples tasca. Aliás, ontem abriu um espaço que me pareceu muito agradável, no sítio onde ficava A Outra Face da Lua. O espaço (do qual não me recordo o nome) levou uma grande volta e promete ser um dos pontos de passagem obrigatórios nos próximos tempos. Música lounge e gente descontraída parecem dar o mote.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Ciência do Sexo - parte I

A partir de hoje vou iniciar aqui uma série de posts que, de uma forma ou de outra, estão relacionados com sexo - visto à luz da ciência. Penso ser uma temática interessante para muita gente mas aqui analisada de uma perspectiva um pouco diferente. Quase de certeza que cairei na tendência de utilizar linguagem um pouco técnica, por isso, caso existam algumas questões, terei todo o gosto em esclarece-las. Para começar vou explorar um pouco o micromundo que está inerente à fertilização. Entre o momento em que ocorre a ejaculação do macho e a fertilização propriamente dita, os espermatozóides têm de passar por todo um processo de maturação [que aliás começa desde que estes deixam os testículos]. O processo de "capacitação" permite ao espermatozóide penetrar o invólucro do óvulo, de forma a poder deixar o conteúdo do seu núcleo no citoplasma do óvulo. Através de alguns receptores específicos na cabeça do espermatozóide, este associa-se à denominada zona pelúcida do óvulo (uma camada de glicoproteínas que envolve a membrana do óvulo) - ocorre também a reacção acrossómica que envolve a libertação de algumas enzimas hidrolíticas que vão degradar parcialmente a zona pelúcida [o que está esquematizado na primeira imagem da figura abaixo].



Para que o conteúdo do espermatozóide seja entregue no citoplasma, este tem de penetrar através da camada de glicoproteína e neste processo é crucial uma proteína: a actina. Esta proteína existe nos tecidos musculares e, estruturalmente, consiste numa subunidade que, mediante determinadas condições, se associa a outras subunidades idênticas [isto é, polimeriza de forma filamentosa]. Os filamentos de actina existentes junto do acrossoma do espermatozóide começam então a polimerizar o que vai permitir a intrusão da cabeça deste através da zona pelúcida, até que ocorra a fusão entre a membrana plasmática do óvulo e do espermatozóide [como representado nas figuras 2 e 3 do esquema]. A partir daí são activados os mecanismos que permitem a transmissão do material genético do macho para o interior do óvulo fecundado.

A descrição que aqui fiz é simplista mas a minha intenção é somente tentar despertar-nos para o microcosmos que "vive" a um ritmo alucinante em nós e que, basicamente, nos faz sermos nós. De qualquer forma, para os mais curiosos, deixo aqui um artigo deste ano que aborda esta temática.

[Artigo] "Role of Actin Cytoskeleton in mammalian sperm capacitation and the acrosome reaction"


terça-feira, setembro 20, 2005

Harmonia

Há uma semana atrás, enquanto regressava à rotina de Lisboa, ia olhando as paisagens à minha volta e tentando recordar aqueles momentos que me preencheram durante este Verão. De certa forma fui revivendo aquilo que muitas pessoas representam para mim mas também acordando para o meu papel perante essas pessoas. Acabei por, a pouco e pouco, ir reconstruindo o vazio que por muitas vezes senti durante estas férias.
Volto agora com um novo espírito para o último ano do curso que envolve, entre muito trabalho, uma ida para a Holanda, para realizar o estagio final. Mas até lá muitos posts ainda haverão de passar por aqui. Entretanto, regressei à minha paixão pela poesia que há muito tinha ficado adormecida.

Quando já nada tiveres a descobrir
Mergulha nesse vazio
[o universo espera-te]