quarta-feira, setembro 21, 2005

Ciência do Sexo - parte I

A partir de hoje vou iniciar aqui uma série de posts que, de uma forma ou de outra, estão relacionados com sexo - visto à luz da ciência. Penso ser uma temática interessante para muita gente mas aqui analisada de uma perspectiva um pouco diferente. Quase de certeza que cairei na tendência de utilizar linguagem um pouco técnica, por isso, caso existam algumas questões, terei todo o gosto em esclarece-las. Para começar vou explorar um pouco o micromundo que está inerente à fertilização. Entre o momento em que ocorre a ejaculação do macho e a fertilização propriamente dita, os espermatozóides têm de passar por todo um processo de maturação [que aliás começa desde que estes deixam os testículos]. O processo de "capacitação" permite ao espermatozóide penetrar o invólucro do óvulo, de forma a poder deixar o conteúdo do seu núcleo no citoplasma do óvulo. Através de alguns receptores específicos na cabeça do espermatozóide, este associa-se à denominada zona pelúcida do óvulo (uma camada de glicoproteínas que envolve a membrana do óvulo) - ocorre também a reacção acrossómica que envolve a libertação de algumas enzimas hidrolíticas que vão degradar parcialmente a zona pelúcida [o que está esquematizado na primeira imagem da figura abaixo].



Para que o conteúdo do espermatozóide seja entregue no citoplasma, este tem de penetrar através da camada de glicoproteína e neste processo é crucial uma proteína: a actina. Esta proteína existe nos tecidos musculares e, estruturalmente, consiste numa subunidade que, mediante determinadas condições, se associa a outras subunidades idênticas [isto é, polimeriza de forma filamentosa]. Os filamentos de actina existentes junto do acrossoma do espermatozóide começam então a polimerizar o que vai permitir a intrusão da cabeça deste através da zona pelúcida, até que ocorra a fusão entre a membrana plasmática do óvulo e do espermatozóide [como representado nas figuras 2 e 3 do esquema]. A partir daí são activados os mecanismos que permitem a transmissão do material genético do macho para o interior do óvulo fecundado.

A descrição que aqui fiz é simplista mas a minha intenção é somente tentar despertar-nos para o microcosmos que "vive" a um ritmo alucinante em nós e que, basicamente, nos faz sermos nós. De qualquer forma, para os mais curiosos, deixo aqui um artigo deste ano que aborda esta temática.

[Artigo] "Role of Actin Cytoskeleton in mammalian sperm capacitation and the acrosome reaction"