A arte é "um meio de transformar os universos que nos rodeiam, mas também do nosso universo interior"
António Damásio esteve o mês passado no Centro Cultural Olga Cadaval para uma palestra sobre o "Cérebro, Corpo e Emoção" - área onde este neurocientista tem dado um importante contributo. Eu já aqui tinha falado sobre a obras literárias de Damásio e sobre a sua teoria de construção da consciência, emoções e sentimentos. Nesta conferência, A.D. avançou a caminho da Arte e do papel que esta pode ter no ser humano: como elemento unificador da harmonia e possível criadora de bem-estar. Não consigo deixar de me sentir optimista quando vejo alguém a desbravar caminho por vias tão sinuosas como são as do cérebro - e a tentar, por meio da ciência, construir novas formas de abordar o ser humano. Ouvia-se na conferência:
Se, assim, as artes, como a dança ou a música, são universais, são-no porque também as emoções são universais, embora as causas sejam diferentes. "Uma grande parte dessas causas resulta da estrutura universal, outra (mais pequena) vem da nossa estrutura interior", diz.
Ao ler estas palavras lembro-me de muitas já proferidas por Georges Stobbaerts acerca das Artes do Movimento e de como o gesto deve ser sentido, para ser intrinsecamente belo. E basta pensarmos em como a música influencia o nosso estado de espírito: ainda recentemente, ao ouvir algumas músicas, despertaram em mim uma série de sentimentos que já não experienciava há algum tempo. Fiquei momentaneamente nostálgico e recordei uma série de momentos passados - a cascata de sentimentos e/ou emoções que desencadearam os padrões neuronais que me levaram àquele estado são um dos grandes desafios que gostava de ver esclarecidos em vida.
Este carácter universal que constantemente interpenetra ciência e arte é algo que me faz sentir satisfeito por ser humano e por, no dia a dia, poder vivenciar, analisar e interpretar aquilo que faço para uma maior consciência de mim mesmo.
[Ler a entrevista a António Damásio]