Identidade Sexual e Genética - Parte II
O conhecido gene gay deve fazer parte de um sistema bem coordenado que permite o desenvolvimento do comportamento sexual, não só humano, mas também do restante reino animal – o que implicaria que a homossexualidade se encontra gravada em nós há mais tempo do que se pensa [e não é só uma moda como alguns defendem].
Aqui são interessantes os recentes resultados que indicam que os homossexuais masculinos reagem de forma diferente relativamente às femininas quando confrontados com ambientes ou cenas de sexo explícito, sendo que os gays apresentam alterações nos padrões neuronais (correspondentes à excitação) quer perante cenas de sexo homossexual quer heterossexual, o mesmo não se verificando com a maioria das lésbicas. A questão aqui será: ao que se deve esta diferença? Ao comportamento sexual? Ou à identidade sexual desenvolvida e nas formas de a exprimir? Provavelmente na segunda dadas as evidências da diferente organização do cérebro no masculino e no feminino.
A meu ver faz todo o sentido, do ponto de vista evolutivo que primeiro tenham aparecido os comportamentos sexuais, incluindo os homossexuais e só depois, quando o cérebro alcançou o grau organizacional que lhe permitiu desenvolver os sentimentos e a consciência, tenha aparecido a identidade homossexual. Talvez seja também devido à criação desta identidade que se verifica um maior número de gays e lésbicas estritos [ou seja que têm quase exclusivamente comportamento sexual com parceiros do mesmo sexo] – isto não implica necessariamente um processo de escolha racional, podem também estar aqui inerentes os dispositivos neuronais que permitem a construção da identidade. De qualquer forma acho que é essa a principal diferença na vivência das sexualidades pelos humanos [estou certo que muitos concordarão comigo – os afectos são um grande legado que a nossa espécie deixa]
No entanto não é o descodificar dos processos de desenvolvimento do comportamento e de construção de identidade que vai alterar a realidade da aceitação da comunidade homossexual perante a sociedade. A ciência actual caminha uns largos anos à frente das mentalidades [o caso mais flagrante talvez seja a Mecânica Quântica que já foi formulada à cerca de um século e ainda hoje não é do conhecimento de grande parte da população]. Creio que todo o trabalho presente e que se fará de futuro é importante para podermos começar a adequar o ensino e a forma como se abordam os temas – é preciso despertar mentes e é pelas raízes que se formam árvores sólidas. Por vezes só depois de algumas gerações é que são evidentes as alterações na mentalidade e penso que ao ritmo a que a vida corre nos dias de hoje cada vez mais isso será notório.
Muitos meios jurídicos procuram com ansiedade bases biológicas para a homossexualidade mas isso pode vir a tornar-se, ou ineficiente ou mesmo perigoso pois pode encontrar-se o reverso da medalha – o usar de argumentos biológicos para considerar assim a homossexualidade, mais uma vez, como um “defeito” genético [e deve haver muita gente à espera da primeira oportunidade…]. A legislação é muito importante para evitar violações à condição humana, mas não é de longe o suficiente para alterar mentalidades.
Os próximos anos serão decisivos com o evoluir e com o intercâmbio dos conhecimentos da neurociência e da genética comportamental para perceber os mecanismos que estão por detrás dos comportamentos humanos. Mas, mais importante é estarmos cientes que o universo animal, mais concretamente o nosso, é imenso e preenchido de uma dinâmica inimaginável e que ao limitarmos os outros estamos necessariamente a impôr barreiras a nós próprios.
[adicionado] Para os mais interessados nestes assuntos deixo aqui o link para o download de um livro que existe online chamado "Genetics and Human Behaviour - The Ethical Context". Neste livro estão expostas as bases da genética comportamental e as suas metodologias de estudo e têm uma descrição daquilo que já se conhece actualmente neste campo. Na parte III Capítulo 10 "Sexual Orientations" estão enumerados os principais estudos das bases genéticas para o comportamento sexual e é feita uma pequena análise do tema. Aqui fica.
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