quinta-feira, fevereiro 19, 2004

O dia depois.

Hoje sinto-me triste. Triste enquanto ser humano. Triste enquanto animal. Triste enquanto ser pensante e criativo. O dia de ontem foi bastante agitado: passei o dia a ler noticias e blogs e sobretudo a reflectir. Li imensa coisa. Imensa gente por detrás de cada palavra. E tenho-me lembrado constantemente de algo que me disseram um dia "A democracia não é nem de perto nem de longe um bom sistema político, mas até aqui ainda ninguém arranjou nenhum melhor"...O Ghast mandou-me uma sms que me deixou muito pensativo onde dizia que a reacção das pessoas [à posição descrita no post abaixo de LVB] é "normal" porque tudo está a acontecer bastante depressa e as pessoas não mudam assim. Eu sei. Somos humanos.

De entre os vários comentários que li por muitos blogs e no próprio PÚBLICO, aquilo que mais me impressionou foi a convicção com que tanta gente opina [ok, eu já sabia isto, mas não deixa de me impressionar]. Desde argumentos científicos e anti-científicos, moralistas, discriminatórios, estritamente homofóbicos, "tolerantes"-mas-adoptar-crianças-é-que-não, pseudo-conservadores, evolucionistas, revolucionários, não consegui [salvo raras excepções] encontrar humildade nas palavras. Disponibilidade. Temos muito que aprender a nível civilizacional. A nível pessoal. Há ainda um longo caminho a percorrer para construirmos algo de novo para a sociedade, aliás, para as diversas sociedades. No entanto é reconfortante saber que ainda existe muita gente disponível para isso e que se dedica a essa árdua tarefa. As palavras de LVB são perigosas. Pela forma como foram proferidas. Pela intenção [e por tudo aquilo que está subjacente a ela]. Porque facilmente se desmorona um castelo de cartas [que tem demorado séculos a ser construido].

"A pensar no bem das crianças!". Vou ser sincero. Sempre fui da opinião que se protegem demasiado as crianças - por vezes chegando ao limite de não as deixar desenvolver as suas capacidades latentes. Acho sim que devem crescer sem se ver privadas dos direitos humanos. Mas que o processo cognitivo por que passam deve ser rico e bem experienciado permitindo-as construir o trampolim que lhes permitirá saltar para o futuro. E devem ser amadas. E o Amor é dinâmico.

Não consigo deixar de me sentir ignorante e insignificante quando vejo a fragilidade das nossas construções sociais quando comparadas com a funcionalidade inerente às sociedades de várias espécies que coabitam connosco. Há muito trabalho a fazer. Aceitam-se voluntários.

Hoje estou como o Alberto Caeiro. Gostava de ser como uma pedra. Mas estou mais sereno. Just some thoughts...