quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Ao Encontro de Espinosa



Admiro o trabalho de António Damásio e tenho acompanhado os seus estudos. Já li "O Erro de Descartes" e o "Sentimento de Si" e aprecio, não só a forma clara como as matérias são expressas, mas também a forma de expressão deste neurologista português. Estou neste momento a ler "Ao Encontro de Espinosa - As Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir" e tenho já algumas noções que, quando terminar a leitura, aproveitarei para postar aqui um pequeno review. Este trabalho pega nos ideais espinosianos e tenta transpor para aquilo que é actualmente o conhecimento da mente e dos comportamentos humanos - são inúmeras as referências à obra do referido filósofo. O universo da mente é um fascinante tema de estudo. Não obstante o facto de este livro não trazer muito de novo acerca da teoria proposta por Damásio e o seu grupo de trabalho, demonstra uma série de hipóteses já enunciadas e várias experiências que vêm de certa forma solidificar as suas investigações. É uma obra que vale a pena ler [e pensar sobre ela] porque talvez consiga ajudar a compreender-nos e aos outros. Deixo aqui uma passagem que me suscitou interesse:

"Compreender a biologia das emoções e o facto de que o valor das diferentes emoções depende das circunstâncias actuais, oferece oportunidades novas para a compreensão moderna do comportamento humano. Podemos compreender, por exemplo, que certas emoções são más conselheiras e procurar modos de suprimir ou reduzir as consequências desses maus conselhos.. Estou a pensar nas reacções que levam a preconceitos raciais e culturais e que se baseiam em emoções sociais sujo valor evolucionário residia no detectar de diferenças em outros indivíduos - porque essas diferenças eram indicadoras de perigos possíveis - e no promover de agresão ou retraimento. Este tipo de reacções deverá ter produzido resultados extremamente úteis numa sociedade tribal, mas não é nem útil nem aceitável no mundo actual. É evidente que é importante saber que os nossos cérebros continuam equipados com a maquinaria biológica que nos leva a reagir de um modo ancestral, ineficaz e inaceitável, em certas circunstâncias. Precisamos de estar alerta para esse facto e aprender a controlar essas reacções individualmente na sociedade em que vivemos."

O review virá para breve mas desde já recomendo a leitura [e a persistência para algumas partes que pareçam mais "pesadas"]