terça-feira, fevereiro 10, 2004

Fé..

Tenho que pedir desculpa a algumas pessoas mais crentes, mas estou a acabar de ler o livro do Dawkins e encontrei uma passagem deliciosa:

"[...] afinal, o que é a fé? É um estado mental que leva as pessoas a acreditar em algo, não importa o quê, na ausência total de evidências que o possam confimar. Se essas provas existissem, essa fé seria supérflua, pois as evidências levariam-nos, de qualquer forma, a acreditar. [...] Eu não quero argumentar que as coisas em que uma determinada pessoa tem fé são necessariamente patetas. Podem ser ou não. O problema é que não podemos decidir se são ou não, e também não podemos preferir um artigo de fé, em detrimento de outro, porque toda a evidência é explicitamente evitada. É verdade que o facto da verdadeira fé não necessitar de qualquer evidencia é apregoado como sendo a sua maior virtude.
A fé não move montanhas (embora o contrário seja dito solenemente a gerações de crianças, que acreditam nisso). Mas é capaz de levar as pessoas a uma tal loucura perigosa que, para mim, a fé parece mais uma espécie de doença mental. Leva as pessoas a acreditar tão fortemente numa coisa que, em casos extremos, elas se dispõem a morrer e a matar por ela, sem necessidade de quaisquer justificações adicionais.
[...] A fé é suficientemente poderosa para imunizar as pessoas contra todos os apelos à piedade, ao perdão, a toda a decência humana. Chega até a imunizá-las contra o medo, se acreditarem honestamente que a morte de um mártir os levará directamente ao Céu. Que grande arma! A fé religiosa merece um capítulo, por direito próprio, nos compêndios das tecnologias de guerra, ou um lugar equivalente ao do arco, do cavalo de guerra, do tanque e da bomba de hidrogénio"

E completa, noutra parte:
"A fé cega pode justificar tudo. [...] Isto é tanto verdade para a fé cega patriótica e política como para a religiosa."

Escrito em 1989, mas ainda tão actual.