segunda-feira, junho 20, 2005

O Monstro

Guiava furiosamente pela serra, as curvas ficavam cada vez mais apertadas. Ela não podia ter-me feito isto, pensava. Como é possível, como é que ela foi capaz? O pé, cada vez mais pesado no acelerador, já estava dormente da força. De repente, um carro surge do meio de nenhures, encandeando-o na noite escura. Uma guinada, derrapagem, cambalhotas. Parou, um suspiro. Uma faísca tratou do resto: enquanto o Diabo esfregava um olho, o carro estava em chamas. Minutos depois, as sirenes assinalam a ajuda que chega. Foi levado para o hospital, onde um terrível destino o esperava: não morreu, mas queimaduras graves deformavam-lhe agora o rosto e grande parte do corpo. Nos primeiros tempos após deixar o hospital preferiu o isolamento. Não queria que ninguém o visse nesse estado. Mas o tempo foi passando e ele estava vivo. Havia um mundo lá fora e ele não podia fingir que não fazia parte dele. Foi duro mas aventurou-se. Não usava máscara (o que poderia ser mais estranho?) e as pessoas olhavam-no uns com estranheza, outros com pena. A vida nunca mais seria a mesma. Acabaram os namoros, algumas amizades e até as idas ao café de que tanto gostava.

Hoje vim um senhor assim no autocarro. O que seria que aconteceu para ter a cara naquele estado? Perdeu completamente a noção da imagem (para quê?), o cabelo em desalinho, os olhos em sangue, todo o seu conjunto me impressionou. Daí o post.